TORCER, VERBO LOUCO
(Sérgio Costa Ramos)
Torcedor é um maluco de berço, um doidinho animado, um “vivo” sempre pronto pra correr atrás do trio elétrico.
O Campeonato Catarinense vive um quadrangular efervescente, reunindo quatro dos seus gigantes do futebol, todos empenhados numa batalha que culminará com a grande epifania do dia 3 de maio de 2009: quem será, afinal, o campeão?
Cada torcedor tem a sua resposta pronta. Será o “meu time”, é claro — desde que os juízes não se comportem como “senadores”...
Torcida é substantivo feminino, e, segundo os dicionários, é a “coletividade dos simpatizantes de uma agremiação ou entidade esportiva”. Torcer é verbo transitivo indireto, cujo meio de ligação é o torcedor — esse “desajuizado”.
Torcer é manifestar sua apaixonada predileção pela vitória de uma equipe esportiva, seja de tênis, frescobol, críquete ou futebol.
Fora do futebol, torcer é “humano”, é desejar algo ardentemente, mas de uma maneira ainda racional. Por exemplo, desejar a um doente a sua recuperação:
— Torço por suas melhoras...
“Torcer”, em futebol, é um pouco esse desejo racional, conjugado com outras associações mais ou menos descontroladas do ego humano, civilizado, com o seu ID primitivo — que se expressa pela “voz rouca e vociferante dos estádios”.
Torcer, na verdade, é “distorcer”.
O sentido, o significado das coisas ou a proporção da realidade, alterando-a e desvirtuando-a. Não chega a ser a síndrome de Estocolmo — que leva os sequestrados à loucura de amar os sequestradores — mas a síndrome da arquibancada, que induz o torcedor a interpretar todos os acontecimentos segundo a cor da camisa do seu time.
Já o “amarelo” da Costeira, fino filósofo do saber mané, prefere declarar-se “sequestrado” pela paixão azurra e, na sua lúcida loucura, até identifica no adversário de hoje “aqueles galegos que provocaram a grande crise econômica mundial”...
— Esse Avaí faz côsa e hoch vai vingá os que foro logrado ou mandado imbora do impregu...
— Como assim?
— É qui djáhoch tava só assuntando de quanto vai sê nosso jogo contra esses “branquinho de zoio azuli”, como falô o Lula. É uma questã de justiça, sô!
