By Sérgio da Costa Ramos
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Meu caro Anjo Pornográfico: Estava escrito há 10 milhões de anos, quarenta minutos antes do Nada, que o Fluminense perderia para o Avaí na Ressacada, aos 48 minutos do segundo tempo, numa intervenção direta do Senhor dos Passos, inconformado com a grave, a cava injustiça que se desenhava em campo: mais um empate sensaborão, mais uma iniquidade do destino. O azurra jogava como nunca e empatava como sempre.
Junto com um maço de “Caporal Amarelinho”, pito da tua predileção, mando-te o VT do jogo, para que vejas com os teus próprios olhos o “passeio” que o tricolor tomava no primeiro tempo – e os gols que o meu Avaí perdia no segundo, depois de um empate injusto, estimulado por Sua Senhoria. Sim, tens razão: a arbitragem normal e honesta confere a uma partida um tédio profundo, uma mediocridade irremediável. Só o juiz gatuno, o juiz larápio, dá ao futebol uma dimensão nova e – como dizias – “shakespeariana”.
Pois o Avaí jogava como a Seleção Húngara do Armando Nogueira, deslizando em campo como um cisne de Tchaikovsky. O primeiro gol, de Muriqui, resultou de uma sinfonia bem acabada, uma Nona de Beethoven, uma Sinfonia número 3, de Chopin – sem querer “inticar” com um dos seus virtuoses, o nosso emérito tricolor Arthur Moreira Lima.
Não chorem, caros Nelson e Arthur, lágrimas de esguicho: aquele gol espírita, emanado da canhota de um Gago, não tinha nada a ver com o “Sobrenatural de Almeida”. Era a pura materialização da espada da justiça sobre a Terra. O Avaí jogava futebol – e bem – o tricolor, fazia cera. Acreditem: até o técnico tetracampeão do mundo, Parreira, foi flagrado retendo a bola à beira do campo, tentando fazer o relógio andar.
E se a justiça quisesse impor sua verdade sobre o jogo, os ventos da Ressacada teriam testemunhado um massacre. O placar moral da partida não ficaria por menos de 5 a 2 – tivessem William e Lima consumado gols fáceis, gols que até a “grã-fina de nariz de cadáver” faria, mesmo sem saber “quem é a bola”.
Agora sabes, meu caro Anjo, aí das alturas onde cometes o teu voyeurismo: só há uma “Squadra Azurra” no mundo – e não é a esquadra de Buffon, Gatuso, Cannavaro e Pirlo. A verdadeira “azurra”, a que faz “cosi e tutti quantti”, é a azurra de Martini, Muriqui, Marquinhos e Leo Gago.
Dirão os idiotas da objetividade, os torcedores anticelestiais: comemoram o quê, esses azuis? O primeiro lugar da zona do rebaixamento?
Pois em verdade vos digo, caro Nelson e “amicci” rivais: este campeonato brasileiro ainda ouvirá falar de novas epopeias azurras, de novos “allegros” avaianos, de novos finais intensos e dramáticos, como um “Macbeth”, um “Coriolano”, um “Julio César”, um “Otelo”, um “Hamlet”, um “Rei Lear” – que eu rapidamente adaptaria para “Rei Leão”. Modificando todos os desfechos, é claro.
Daqui para a frente, o Avaí só conhecerá “happy-ends”.