segunda-feira, 23 de junho de 2008

MAIS UMA CRÔNICA DO AVAIANO


O INVICTO POTIGUAR


Só dois grandes clubes populares mantêm invictas suas cidadelas neste Campeonato Brasileiro da Série B: o Corinthians e o Avaí.

Houve época em que o azurra do Rio Tavares sequer podia atravessar a Ponte Hercílio Luz que já começava perdendo por 1 a 0. Era só pisar ali no Estreito - e pronto: o adversário já mexia no placar. Jogar fora era sinônimo de goleada.Terá sido por influência desse obsessivo céu azul que o Avaí inverteu a história? O Nordeste acaba de conhecer uma nova festa junina: cinco busca-pés nas redes potiguares.

Depois da sova de 5 a 1, aplicada no América de Natal, o "Invicto do Nordeste" ressurge para lembrar o noticiário épico daqueles tempos românticos, em que o Exército azurra não se deixava derrotar - empatava... A primeira "guerra" externa foi lá pelos anos 1950, contra o Rio Branco de Paranaguá. O empate de 1 a 1 valeu manchete de jornal:

- Retorna à Ilha o "Invicto de Paranaguá"!

Anos mais tarde, na década de 1970, aconteceu a famosa excursão ao Rio da Prata. Jogos contra Peñarol, Racing Club e Argentinos Juniors. Gloriosos empates de 2 a 2 contra os argentinos. O de 3 a 3, contra o Peñarol - em pleno Estádio Centenário, três gols do "artilheiro" Lica - trouxe à Ilha de Santa Catarina a diretoria do aurinegro uruguaio, então um dos expoentes do futebol sul-americano e mundial. Queriam levar nosso artilheiro "na hora", surpresos com o novo Pelé.Lica chegou para uns treininhos, com o "status" de superstar. Mas já nos primeiros movimentos sentiu falta dos galhos do eucalipto da Avenida Mauro Ramos - com os quais fazia "tabelinha" no velho Pasto do Bode. Acabou rescindindo o contrato, antes mesmo de ter assinado.Estava faltando a centelha daqueles momentos "épicos". O Avaí vinha jogando por música, mas na hora de "executar" o adversário, baixava o espírito do Lica na moçada e as bolas iam parar "lá longe, fora do estádio".

O "Invicto Potiguar" começa a reescrever essa história de fracassos. Depois de ter sido a melhor equipe do campeonato estadual - e "se os fatos não confirmarem a realidade, pior para os fatos" (Nelson Rodrigues) - o alviceleste já é o segundo melhor do Brasileiro-B. Claro, dirão as aves de mau agouro, "em futebol uma verdade muda de cinco em cinco minutos". Ano passado, já avisaram, "o Criciúma liderou o campeonato por mais de 15 rodadas e por muito pouco não acabou rebaixado".

Há no ar, entretanto, um perfume de tantas virtudes, debaixo deste céu sempre tão azul, que só mesmo o "Sobrenatural de Almeida" - aquela horrível criatura rodrigueana - teria poderes para desmanchar os bons fados avaianos. O próprio Nelson Rodrigues, se pudesse reencarnar, apoiaria o frenesi azurra:

- Amanhã, contra o Ceará de José de Alencar, nenhum azurra poderá ficar em casa se abanando com a "Revista do Rádio". O lugar de avaiano vivo, amanhã à noite, é na Ressacada. Os vivos devem sair de suas casas, os doentes de suas camas, os mortos de suas tumbas. Os gozadores de plantão não sossegam, nem se dão por vencidos.

Meu amigo alvinegro já está do outro lado da linha:

- Quer dizer que agora é rumo a Tóquio?

E eu, modesto:

- A Tóquio, não. Mas ao seu subúrbio...

Pra quem não sabe, a final do Mundial interclubes se joga hoje em Yokohama, cidade-dormitório da capital nipônica.Sinto que nossa Tóquio virá vestida num quimono alviceleste, lá pelo final de novembro, junto com boas novas para a humanidade: Barack Obama na Casa Branca e a Série A na Casa Azul..."

Autor: Sérgio da Costa Ramos