TÁ CHEGANDO A HORA
Sérgio da Costa Ramos
Todo avaiano tem a pele curtida do jacaré. Nosso lombo assimila gozações e glórias. Sabemos, com civilização, absorver o 1º degrau do pódio ou o abismo da derrota.Por isso, não deixa de ser um pecado gozoso esse "prelibar" da grande glória de chegar à Série A.
Calma, gente. Ainda não estamos lá, matematicamente. Nem precisa. Nosso rumo está traçado, nosso destino chegará a seu tempo - até porque tudo e todos conspiram a favor do Azul.
Nosso time anda aureolado de uma energia de altíssima voltagem. Todo mundo sabe que Cruz e Sousa e sua mitológica personagem, o vento sul, são avaianos. Como avaiano é o próprio Senhor dos Passos - e sua infinita misericórdia.
Força e luz não têm faltado ao Avaí. Para comprovar, basta que nos debrucemos diante do gol de Evando, o da vitória, na última sexta-feira.
Tinha que ser no penúltimo minuto. Tinha que ser de Evando - o David Copperfield do Rio Tavares. Um mágico que gosta de desafiar a lógica cartesiana: já fez gol de bicicleta, de bico e de vento sul. Já deu "passe" de calcanhar, em tabelinha com a outra perna. Já inventou o "Fiz-Que-Fui-Mas-Não-Fui", também conhecido como "Lambreta de Ré". E, sexta à noite, encaçapou de voleio, com o requinte de ter feito a bola tomar a bênção nas duas traves, antes de entrar.
Força e luz são os predicados dos quais mais vai precisar nosso co-irmão, o alvinegro do Estreito, depois de amanhã, quando recomeça o seu jogo contra o Flu, já perdendo de 1 a 0. Desejo boa pontaria ao Figueira e que todos os fios da vizinhança estejam devidamente encapados.
Desejo, também, uma boa dose de "fair-play", se o pior acontecer. Uma visita à Série B, o que, como bom florianopolitano, sinceramente não desejo.
O que desejo, para o caso, é que saibam aprender com a bruxaria com a qual conviveu o Avaí nesses últimos sete anos - sabendo-se que esta conta de sete sempre vem associada a alguma praga da "bruxa" de Franklin Cascaes. A todas essas provações o Avaí sobreviveu com bom humor e dignidade, destacando-se na hoje ultra competitiva e bem organizada Série B.
Hoje, o Avaí é um veículo esportivo completo, com tração nas 11 rodas. Joga no seco e no banhado. Convive, harmoniosamente, com os "quero-queros" e com os sapos, sabe bicar o adversário e coaxar alto.
Não vou dizer que o Avaí é um utilitário da Toyota , um 4 x 4. Só pra não fazer "merchandising" e pra não dar ao meu amigo alvinegro lá da Armação o direito a alguma ironia cortante:
- Meu Deus, nem subiram ainda e já estão pensando em Copa Toyota, em Tóquio?
Oióió, e por que não? A última vez que um "azulão" chegou lá parece ter sido com o Futebol Clube do Porto, nossa "filial" em Portugal, a quem emprestamos o uniforme.
Se a final for num dia de chuva, com poça dágua em Yokohama, quem é que vai segurar o Leão?