segunda-feira, 11 de agosto de 2008

MAIS UMA BOA CRÔNICA DO AVAIANO

O PRIMEIRO DA SÉRIE
Sérgio da Costa Ramos
Ainda impactados pela onírica cerimônia do "Ninho de Pássaro", os avaianos estão acompanhando as Olimpíadas hi-tech da China, as emoções do vôlei - nas quadras e nas praias - as braçadas dos peixes no estonteante "Cubo dÁgua" - enfim, o show do esporte mundial, neste cenário futurista de Pequim 2008. Mas o Azul insiste em cintilar no meio deste magnífico palco, produzindo-se, como por encanto, no novo figurino da Seleção Olímpica, o alegre Ronaldinho comandando a goleada sobre a Nova Zelândia.Os avaianos não abdicam desta outra Olimpíada, que é o Campeonato de Acesso ao Nirvana da Série A. Tudo bem, os alvinegros vão se vangloriar, dizer que já estão neste céu azul há sete anos - e que o Avai ainda está na "calçada". À maneira de Nelson Rodrigues, responderei:

- A graça está na emoção da conquista. Depois de chegar ao Céu, que emoção nos restará?

Perdoem a euforia deste avaiano que se corresponde com o marciano Ernesto Meyer Filho, torcedor-símbolo, residente em Marte. Proprietário de poderes extrasensoriais, Galo-Meyer manda dizer que enxerga o futuro lá do mirante de sua grande varanda estelar. Com sua perscrutadora visão cósmica, o lendário artista tira a "azurra" do armário, mune-se do "radinho" de pilha que o acompanhava no pré-jogo do Bar Topázio - e se prepara para o grande clássico de amanhã:

- Será o primeiro jogo do Avaí na Série A. Depois, teremos outros Avaí x Corinthians, pelos campeonatos da Primeiríssima Divisão, ao longo dos próximos 100 anos.

Galo-Meyer capta os ecos do futuro e cacareja o retorno dos "Tempos Dourados". O Avaí e a glória de reviver o esquadrão invencível dos anos 1940, o tetracampeonato de 42, 43, 44 e 45, o ataque "blitzkrieg" dos anos da Grande Guerra: Filipinho, Nizeta, Bráulio, Tião e Saulzinho... Mas há uma mudança nessa febre nostálgica. De repente, o Galo começa a falar no presente do Indicativo, de glórias ainda a ser vividas - não mais daquelas do pretérito passado:
- Olha, foi uma boa troca. Perdemos algumas sílabas, mas ganhamos em poder de fogo. Saiu o Vandinho, entrou o Evando, um "matador" que nunca despiu o manto azul e branco.
"Longos e traiçoeiros", contudo, são os caminhos do futebol, adverte o galo-cósmico:
- Ao anular um gol legítimo do nosso time, o juiz baiano pretendia, talvez, turbinar os "acarajé-boys" do Esporte Clube Bahia.
A chegada ao Nirvana do futebol é assim mesmo. Cheia de ciladas, alçapões, armadilhas e tapetes puxados. Todo cuidado é pouco!Mas o Galo está botando a maior fé. Prometeu chegar cedo à Ressacada nesta terça-feira, como fazia antigamente ao abrir o expediente da "Toca do Leão", no velho Pasto do Bode. Ali, tomava meia dúzia de "Faixa Azul", a cervejota tinha que rimar com o time.Politicamente correto, Meyer Filho sabe que os tempos são outros - "se for beber não dirija; se for dirigir, não beba". Mas quem disse que um pintor intergaláctico precisa de automóvel ou carteira de habilitação?
Incorpóreo, ele está, como o Senhor, "em toda a parte", e pode muito bem materializar-se num passe de 50 metros de Marquinho Santos, o maestro "azurra", ou pegar uma carona a bordo da espoleta do artilheiro Evando.Será difícil. Se fosse fácil, não seria uma "coisa" avaiana. É como discursa o Galo Meyer, ouriçando as penas:- Se pudermos chegar ao Paraíso pelo método mais espinhoso, com uma escala em Marte e outra no Purgatório, por que optar pelas coisas simples e insípidas, destituídas de sofrimento e emoção?